O presidente norte-americano Donald Trump assinou, na semana passada, uma ordem executiva isentando mais de 200 produtos brasileiros das sobretaxas de 40% anunciadas em julho. Itens importantes para a pauta exportadora nacional, como carne bovina, alguns tipos de café, frutas e sucos , bem como alguns produtos minerais, fertilizantes e combustíveis fósseis, tiveram as tarifas retiradas. No entanto, ainda há uma lista de itens, sobretudo de setores com menor representatividade, que continuam sobretaxados, prejudicando produtores e exportadores.
Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do desenvolvimento, indústria e comércio (MDIC), afirmou que a lista de produtos brasileiros cujas exportações continuam sobretaxadas representa 22% da pauta de exportação. Na lista do agro, estão itens como máquinas agrícolas e implementos, mel, pescados, coco, café solúvel, tabaco e açúcar, além de calçados (que impactam a indústria de couro) e móveis, com prejuízo à indústria madeireira. No setor de café, os exportadores consideraram a medida “um presente de Natal antecipado”, mas lamentam a permanência do café solúvel na lista.
De acordo com o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, a ordem executiva mostra um caminho positivo para o comércio entre o Brasil e Estados Unidos, no entanto, os itens que não tiveram as sobretaxas retiradas ainda representam 62,9% das vendas brasileiras aos EUA. "A ampliação de itens isentos da tarifa de 40% imposta pelos Estados Unidos ao Brasil faz com que 37,1% das vendas brasileiras ao mercado norte-americano (US$ 15,7 bilhões) fiquem livres de taxas adicionais. Com a medida, pela primeira vez desde agosto, o volume exportado isento das sobretaxas supera aquele submetido à tarifa cheia de 50%, que atinge 32,7% das exportações”. Agora, a instituição irá trabalhar para negociar as sobretaxas restantes.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, José Velloso, lamentou que o setor de máquinas e equipamentos não foi citado na ordem executiva de Trump, mas enxerga com otimismo a negociação sobre os 238 itens isentos e aposta em uma ‘trégua’ nos próximos meses.
Mel, coco e pescados
Os setores de mel, pescados e coco também continuam sobretaxados. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), Eduardo Lobo, afirmou que o governo brasileiro não priorizou o setor, que depende tanto das exportações para os Estados Unidos. O comércio internacional entre os dois países movimenta, em média US$ 300 milhões. Os principais produtos exportados pelo setor ao mercado americano são lagosta, pargo, tilápia, atum e corvina.
A Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), em nota, afirmou que o momento é de grande preocupação, já que os Estados Unidos são o principal mercado do mel brasileiro. Em 2024, as exportações do produto para os EUA movimentaram US$ 78 milhões.
A cadeia produtiva do mel no Brasil é majoritariamente composta por pequenos produtores e agricultores familiares, cuja atuação é essencial para a geração de renda em comunidades rurais. Trata-se de uma atividade sustentável, com impactos positivos para o meio ambiente, especialmente no que diz respeito à polinização e à preservação de nossa biodiversidade. Nesse cenário, o aumento tarifário imposto pelos EUA tende a gerar impactos econômicos diretos e imediatos sobre esses produtores, comprometendo sua atividade e seu sustento.
O tarifaço anunciado por Donald Trump, que atingiu cerca de 700 produtos brasileiros na virada de julho para agosto, foi imposto por Trump alegando que o Brasil era superavitário no comércio com os EUA, quando o comércio é deficitário, além de se meter em assuntos interno ao Brasil, citando o julgamento de Jair Bolsonaro e criticando o Supremo Tribunal Federal, com aplicação da Lei Magnitsky e revogação de vistos aos Estados Unidos.