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Retatrutida: o que é e como age o novo remédio que pode superar o Mounjaro
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A Retatrutida, desenvolvida pela farmacêutica Eli Lilly and Company, tem sido apontada como a nova candidata a revolucionar o tratamento da obesidade. Ainda em fase de estudo e sem aprovação em qualquer agência regulatória do mundo, o medicamento ganhou atenção acelerada nas redes sociais, especialmente após influenciadores afirmarem que ele seria “o mais potente” entre as chamadas canetas emagrecedoras.

Mas o que realmente se sabe sobre a substância — e o que ainda é especulação?

Para esclarecer o tema, o Band.com.br ouviu o Durval Ribas Filho, médico nutrólogo, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e Fellow da Obesity Society (EUA). 

Ele explicou o que a ciência já demonstrou nos estudos divulgados pela Eli Lilly e quais são os cuidados necessários diante do uso indevido desse tipo de medicamento.

O que é a Retatrutida?

Segundo a Eli Lilly, a Retatrutida é um agonista triplo de receptores hormonais incretínicos.

Durval Ribas explica:

“Ela age simultaneamente nos receptores GLP-1, GIP e Glucagon. Com isso, visa amplificar efeitos fisiológicos como redução do apetite, aumento do gasto energético, melhora da sensibilidade à insulina e redução da gordura visceral e hepática.”

Ou seja, trata-se de um medicamento desenhado para atuar em múltiplos mecanismos metabólicos, o que justificou o interesse antecipado da comunidade médica.

Como a Retatrutida se compara a Mounjaro e Ozempic?

As diferenças começam no mecanismo de ação.

  • Ozempic (Semaglutida): atua apenas no receptor GLP-1.
  • Mounjaro (Tirzepatida): ativa dois receptores: GLP-1 e GIP.
  • Retatrutida: é a única que age em três receptores: GLP-1, GIP e Glucagon.

Com base nos estudos clínicos divulgados pela Eli Lilly, o médico explica:

“Os resultados clínicos mostram perda de peso média após 72 semanas de 24,2% com Tirzepatida versus 21,1% com Retatrutida, diferenças pequenas. Em relação à Semaglutida (14,9%), existe diferença, mas novas doses de 7,2 mg — ainda não disponíveis — tendem a aproximar os resultados.”

Ou seja: apesar do entusiasmo público, os números iniciais não sugerem uma superioridade tão expressiva.

A Retatrutida é realmente ‘mais potente que o Mounjaro’?

Alguns fisiculturistas e influenciadores já divulgaram em suas redes sociais que começaram a tomar a substância por apresentar resultados “mais potentes” do que o Mounjaro.

Apesar desses relatos benéficos sobre o medicamento, o nutrólogo faz ressalvas:

“O estudo SURMOUNT-3 mostrou diferença de 3% a 4% na redução de peso. Portanto, existe diferença, mas não parece ser tão significativa até o momento. Só saberemos melhor com mais estudos e mais tempo de observação.”

Além disso, Ribas lembra que quanto maior a dose, maior costuma ser a perda de peso — mas também os efeitos adversos.

A Retatrutida não é aprovada no Brasil — e nem em nenhum país

Apesar da popularidade repentina, não existe liberação da ANVISA, nem do FDA (EUA), nem da EMA (Europa).

Diante disso, Ribas é categórico:

“No momento, não é possível prescrever esse agente farmacológico. Ele não está autorizado por nenhuma agência regulatória em qualquer parte do mundo.”

A substância ainda está na fase final de estudos clínicos globais. Só após o envio do dossiê, análise técnica e validação de segurança é que poderá avançar rumo à aprovação.

Efeitos colaterais

Os efeitos adversos seguem o padrão dos medicamentos da mesma classe:

  • náuseas
  • vômitos
  • diarreias
  • constipação
  • refluxo gastroesofágico

Segundo o nutrólogo:

“Os efeitos colaterais são semelhantes porque todos os agonistas incretínicos interferem diretamente no trato digestório. Eles dependem da dose e da sensibilidade de cada paciente.”

Além disso, um ponto crítico:

“Todos reduzem massa magra. Por isso, acompanhamento médico especializado é essencial, com possível necessidade de suplementação de proteínas, aminoácidos, vitaminas e minerais.”

Contraindicações da Retatrutida

Conforme o médico, elas seguem o padrão da classe de incretínicos:

  • gestantes
  • lactantes
  • alergia às substâncias do fármaco
  • insuficiência renal grave
  • insuficiência hepática
  • histórico de pancreatite
  • histórico familiar de câncer de tireoide
  • doença inflamatória intestinal severa
  • crianças e adolescentes (até o momento, excluídos dos estudos)

Uso ilegal e compra no mercado paralelo: riscos reais

Uma das maiores preocupações hoje é o uso clandestino. A Retatrutida tem sido vendida ilegalmente pela internet em frascos sem procedência, o que representa risco extremo.

O médico alerta:

“Os riscos incluem reações anafiláticas, internações por desidrataçãohipoglicemia com convulsãoparada cardíaca e infecções locais.”

Além disso, sem aprovação, não há controle sobre:

  • dose
  • pureza
  • armazenamento
  • esterilidade
  • substâncias misturadas

A Retatrutida exige acompanhamento nutricional mais rigoroso?

Ainda não existe consenso científico, mas o nutrólogo afirma:

“Não há dados robustos que mostrem necessidade de monitoramento nutricional específico. Mas, como todos os agonistas incretínicos, ela pode reduzir massa magra. Isso exige acompanhamento médico e, muitas vezes, suplementação nutricional adequada.”

Ele reforça um ponto fundamental:

“Nenhum desses medicamentos é milagroso. Obesidade é uma doença crônica — quando o tratamento para, ela tende a recrudescer.”

O caminho da Retatrutida até a liberação da ANVISA

Para chegar ao mercado, o medicamento ainda precisa passar por:

  • Conclusão dos estudos de fase 3.
  • Envio do dossiê à ANVISA.
  • Avaliação rigorosa de segurança, eficácia e fabricação.
  • Eventual aprovação para prescrição médica.

Nenhuma dessas etapas foi concluída.

Fonte: Band.
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