Dez meninos queimados vivos. O Flamengo entregou as cinzas para os pais enterrarem. E a Justiça não enxerga a culpa do clube. O Flamengo tirou meninos pobres de casa com a sedutora promessa de uma carreira no futebol. Entregou luto. O Ninho do Urubu era o ninho da morte.
Um alojamento improvisado, sem alvará, sem ventilação. Com apenas uma porta de saída. O ninho da agonia. Agora o ninho da impunidade. Ao inocentar todos os acusados a Justiça está dizendo: tá tudo bem colocar vidas em risco. Não dá nada. Só falta escrever na porta do tribunal: Bem-vindos à pátria das tragédias sem culpados. Dos crimes sem criminosos.
Absolvição
Na noite desta terça-feira (21), a Justiça do Rio de Janeiro absolveu todos os réus acusados pela tragédia no Ninho do Urubu. O incêndio, que aconteceu no ano de 2019, matou 10 jogadores da categoria de base do Flamengo e comoveu o país. A sentença foi publicada na 36ª Vara Criminal da Comarca da Capital, assinada pelo juiz Tiago Fernandes de Barros.
Onze pessoas foram denunciadas por incêndio culposo e lesão corporal grave. Sete foram absolvidas agora e outras quatro tiveram as denúncias rejeitadas ou foram retiradas do processo antes. A decisão ainda cabe recurso.
O processo envolvia dirigentes do clube e engenheiros da empresa responsável pelo alojamento provisório onde os atletas dormiam. A suspeita é que o fogo tenha começado depois de um curto-circuito num aparelho de ar-condicionado.
O que diz a Justiça
O magistrado apontou na decisão que não há demonstração de culpa penal e disse não ser possível estabelecer causa e efeito entre as condutas individuais dos réus e o fato.
Ainda de acordo com a decisão, não há provas suficientes que fundamentem a condenação. Ele aponta que nenhum dos acusados tinha atribuições diretas sobre a manutenção ou segurança elétrica dos módulos que alojavam os garotos.