
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (10), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez duras críticas à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, comentou a postura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apontou articulações da extrema direita brasileira na taxação americana e defendeu que o ajuste fiscal seja bancado pelos super-ricos, não pela população mais pobre.
“Decisão sem racionalidade econômica”, disse Haddad sobre Trump.
O ministro classificou como “insustentável” a tarifa anunciada por Trump e disse que não há qualquer racionalidade econômica na medida. Segundo ele, trata-se de uma decisão “eminentemente política”.
“Quando a tarifa estava em 10%, eu me reuni com o secretário do Tesouro na Califórnia e disse que não fazia o menor sentido, porque o Brasil era deficitário em relação aos EUA. Ele próprio reconheceu que havia espaço para negociar redução. Agora estamos falando de 50%, algo insustentável econômica e politicamente”, afirmou.
Para o ministro, a medida fere as relações históricas entre Brasil e EUA, que têm mais de 200 anos de comércio bilateral. Ele defendeu que o Itamaraty tem capacidade de negociação reconhecida internacionalmente e acredita em uma solução diplomática.
Ataque à extrema-direita

Haddad ainda acusou diretamente a família Bolsonaro de ter articulado politicamente a taxação americana como forma de pressionar o governo brasileiro. O ministro lembrou declaração pública de Eduardo Bolsonaro, que afirmou que, sem anistia, “as coisas tendem a piorar”.
“A única explicação plausível para o que foi feito ontem é que a família Bolsonaro urdiu esse ataque ao Brasil com objetivo específico de escapar do processo judicial que está em curso. Não é acusação infundada. Foi dito publicamente”, declarou.
Haddad classificou o episódio como um “golpe contra a soberania nacional” promovido por “forças extremistas de dentro do país”.
Ao comentar a reação do governador de São Paulo, estado mais afetado pela tarifa de Trump, Haddad foi incisivo e criticou a postura submissa de Tarcísio de Freitas diante do presidente americano.
“O governador errou muito. Ou bem uma pessoa é candidata a presidente, ou é candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem. Desde 1822 isso acabou. Ajoelhar diante de uma agressão unilateral, sem fundamento econômico ou político, é inaceitável.”
Segundo o ministro, mesmo a extrema-direita precisará reconhecer que deu “um enorme tiro no pé” ao apoiar medidas que prejudicam a economia paulista, como a exportação de suco de laranja e a indústria aeronáutica da Embraer.
BRICS
Questionado se o tarifaço americano poderia estar relacionado ao fortalecimento dos BRICS, Haddad reiterou que o Brasil não se alinha automaticamente a nenhum bloco. Para ele, a política externa brasileira é pragmática e multilateral.
“O Brasil é grande demais para ser apêndice de qualquer bloco econômico. Temos interesses equivalentes com EUA, China e União Europeia. Não podemos abrir mão de nenhuma parceria global”, disse.
Haddad apontou que a globalização neoliberal, promovida pelo Norte Global, não gerou equilíbrio e que o Brasil busca uma “reglobalização sustentável” com benefícios para a sua população.
IOF e ajuste fiscal: “Quem tem que pagar são os super-ricos”
Sobre o decreto do IOF, Haddad destacou que há jurisprudência que garante prerrogativa exclusiva ao presidente da República para instituir o imposto. Ainda assim, reforçou que o governo continua aberto ao diálogo com o Congresso.
O ministro defendeu que o ajuste fiscal brasileiro seja diferente dos anteriores, cobrando dos mais ricos:
“Ajuste fiscal é necessário, mas não pode ser feito em cima da base da pirâmide. Quem tem que pagar são os super-ricos, quem hoje não paga imposto. Não é aumentar imposto; é ampliar a base, fazer quem não paga passar a pagar.”
O petista citou a aprovação da reforma tributária, da taxação de fundos exclusivos e offshore e criticou o governo Bolsonaro por isentar as bets (apostas eletrônicas) de impostos, abrindo mão de R$ 40 bilhões em arrecadação.
“Nós já combatemos a miséria, já abrimos as universidades para negros, pobres e periféricos. Agora, chegou a hora de combater a desigualdade no Brasil.”
Para concluir, Haddad lamentou que, apesar de estar entre as 10 maiores economias do mundo, o Brasil também esteja entre as 10 piores em desigualdade social.
“Não é bonito figurar entre as 10 piores economias em termos de igualdade social. Ajuste fiscal, para nós, é fazer justiça com quem tem mais, não punir quem já sofre.”