91.1 FM - A Sertaneja de Verdade! | São Carlos/SP
Como se forma a chuva de granizo?
Fernando Frazão/Agência Brasil

A chuva de granizo é um dos fenômenos atmosféricos mais impressionantes — e, muitas vezes, perigosos — observados em tempestades severas. 

Para entender como ela surge, por que é mais comum em determinadas regiões e de que forma as mudanças climáticas influenciam esses eventos, reunimos explicações detalhadas de três especialistas: Natannael Almeida Sousa, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Gustavo Coelho, da PUC, e Ramilton Batinga, Batinga Cursos.

O que é granizo e como ele se forma?

A chuva de granizo nasce dentro de nuvens cumulonimbus, nuvens de tempestade muito altas e com intensa circulação vertical de ar estruturas gigantes que podem atingir até 12 km de altura e possuem circulação intensa de ar.

Segundo Natannael, o processo começa quando ar quente e úmido sobe rapidamente, resfria e forma pequenas gotas de água. Em altitudes muito elevadas, onde a temperatura pode chegar a –40 °C, essas gotículas congelam, originando pequenos cristais de gelo.

Dentro dessas nuvens, correntes de ar extremamente fortes empurram esses cristais para cima e para baixo diversas vezes. Nesse movimento, eles atravessam camadas de água super-resfriada, que congelam ao redor do núcleo inicial, formando pedras de gelo com várias camadas. 

Quando o gelo fica pesado demais para ser sustentado pela corrente ascendente, ele despenca — e chega ao solo como granizo.

Ramilton compara o processo a um “empanamento”: cada subida adiciona uma nova camada de gelo ao núcleo, fazendo as pedras crescerem conforme circulam dentro da nuvem.

Já Gustavo explica que, se os “pingos” de gelo são pequenos, eles derretem antes de chegar ao chão. Mas quando o volume de gelo dentro da nuvem é grande, mesmo derretendo parcialmente durante a queda, as pedras conseguem atingir o solo.

Quais condições atmosféricas são indispensáveis para o granizo?

De acordo com todos os especialistas, granizo só se forma quando há muito contraste térmico e grande energia disponível na atmosfera.

Para isso é preciso:

  • Ar muito quente e úmido na superfície, que sobe com força e alimenta as tempestades;
  • Temperaturas muito baixas no topo da nuvem, garantindo a formação de gelo;
  • Intensas correntes verticais dentro das cumulonimbus

Por isso, o fenômeno é mais comum em regiões continentais e áreas com forte aquecimento da superfície. Natannael cita o Centro-Sul do Brasil, norte da Argentina, Tornado Alley nos EUA e partes da Europa e Ásia.

Gustavo destaca que parte do território brasileiro — especialmente Sul, Sudeste (com destaque para São Paulo) e sul do Centro-Oeste — integra a “faixa de tornados” da América do Sul, o que favorece também tempestades com granizo.

Diferença entre chuva, neve e granizo

A formação dessas precipitações depende principalmente da temperatura e do estado físico da água.

Chuva: ocorre quando gotículas líquidas se juntam e ficam pesadas o suficiente para cair.

Neve: surge quando o vapor de água passa diretamente ao estado sólido em temperaturas abaixo de 0 °C — ou quando gotas congeladas não derretem durante a queda porque todo o trajeto até o solo permanece frio.

Granizo: exige correntes verticais fortes que “reciclam” pedras de gelo dentro da nuvem, fazendo-as crescer em várias camadas.

Em resumo, como aponta Natannael, o granizo é resultado de um processo mais violento, típico de tempestades severas.

É possível prever uma chuva de granizo?

Sim — com alguma antecedência, mas não com precisão absoluta.

Os três professores descrevem as mesmas limitações: apesar de ser possível identificar condições favoráveis, prever o ponto exato onde o granizo cairá ainda é muito difícil.

Entre os instrumentos usados estão:

  • Radares meteorológicos Doppler, que identificam regiões com gelo e fortes correntes ascendentes;
  • Satélites, que analisam a temperatura do topo das nuvens e sua estrutura vertical;
  • Modelos numéricos de previsão, como WRF, ECMWF e GFS, que simulam temperatura, umidade e ventos.

Segundo Ramilton, é possível apontar áreas de risco, mas não o local exato e horário preciso.

Quais são os riscos da chuva de granizo?

Os riscos variam conforme o tamanho e a velocidade das pedras. Segundo Natannael, granizos de 2 a 5 cm já podem causar danos sérios. Gustavo acrescenta que pedras maiores podem atingir velocidades superiores a 200 km/h durante a queda.

Entre os principais riscos estão:

Para pessoas

  • Traumatismos e cortes graves em impactos diretos.
  • Ferimentos fatais quando as pedras são muito grandes.

Para veículos

  • Quebra de para-brisas e vidros laterais;
  • Amassados na lataria;
  • Danos a faróis e tetos solares.

Para construções

  • Telhados perfurados ou trincados;
  • Vidros quebrados;
  • Comprometimento de estruturas frágeis e infiltrações posteriores.

Cuidados durante uma tempestade com granizo

Todos os especialistas reforçam que a prioridade é reduzir a exposição ao impacto das pedras.

Entre as recomendações:

  • Buscar abrigo em estruturas sólidas, como casas, prédios, garagens e postos de gasolina.
  • Não se abrigar sob árvores isoladas, que aumentam o risco de raios.

Dentro de casa, manter distância de janelas e portas de vidro.

Se estiver dirigindo, reduzir a velocidade e procurar parada segura.

Ficar dentro do carro é seguro?

Sim — e os especialistas são unânimes nisso.

A lataria metálica funciona como escudo físico contra o impacto das pedras. O maior ponto vulnerável são os vidros, que podem trincar ou quebrar, mas ainda assim é mais seguro permanecer dentro do veículo do que ficar exposto ao ar livre.

Além disso, como destaca Gustavo, carros atuam como uma gaiola de Faraday, protegendo contra descargas elétricas.

Mudanças climáticas podem aumentar as tempestades com granizo?

Sim! O trio aponta que há tendência de aumento na intensidade e severidade dessas tempestades.

Natannael menciona estudos citados pelo IPCC indicando intensificação de eventos convectivos extremos em cenários de aquecimento global acima de 2 °C. 

Ramilton reforça que tempestades mais fortes podem gerar granizos maiores. E Gustavo lembra que mudanças climáticas aumentam contrastes de temperatura, pressão e umidade — ingredientes fundamentais para tempestades severas.

Com mudanças climáticas ampliando contrastes atmosféricos, a tendência é que episódios severos se tornem mais comuns — e, principalmente, mais intensos.

Fonte: Band.
Carregando os comentários...
Boteco da 91 com Brutão
Bruno & Marrone e Jorge & Matheus - Porta Da Frente
Carregando... - Carregando...